17 Mar 2013

O Carnaval Radioactivo de JP Simões


Um concerto de JP Simões é sempre um misto de conversa de café, reflexão filosófica e amor. Muito amor e uma boa dose de sinceridade pura. Humor acutilante também lá está.

A 8 de Março, o músico português deu o concerto de apresentação do novo disco, no Musicbox. Aliás, não foi um concerto de apresentação do disco, foi uma apresentação da própria apresentação. Assim o definiu (começamos na filosofia).

O conceito de concerto é interessante e quase único. Decidiu chamar-lhe Carnaval Radioactivo, uma festa para dar a conhecer o terceiro disco a solo que, lá para Maio, terá como nome Roma (ou amor a contrário), embora fossem sendo atirados outros durante o concerto (Prepúcio Gigante?!).

JP Simões explica que há músicas que reserva só para os espectáculos ao vivo, para que sejam mais valorizadas e os concertos mais interessantes - como um bom vinho que se guarda para um jantar especial. No tom de confidência, de guitarra numa mão e copo na outra (cigarro onde calha), arranca com 'Rubaiyat' e a clássica 'Eleanor Rigby', dos Beatles. 'No Dia em que Vi o Meu Bem' é a terceira e última trova a solo da noite. Junta-se ao cantautor, um dos maiores desta geração que escreve em português, o músico Gabriel Godoi e surge 'Bem Querer'. O título, emprestado de Chico Buarque seria a primeira de muitas notas em brasileiro durante a noite.

Segue-se 'O Fardo do Amor', dedicada à emancipação masculina apesar do Dia da Mulher. Com ela, entram os restantes músicos que acompanham JP Simões durante a noite: baixo, trompete, guitarras, teclas, bateria, baixo e contrabaixo. Acima de tudo, uma cumplicidade grande. Com 'A Million Songs of Yesterday' chega mesmo a recordar o espectáculo de Peter Gabriel e a sua New Blood Orchestra, no Super Bock Super Rock 2012. Contribuíram para a memória as sucessivas ilustrações projectadas no palco.Em Dia da Mulher, dedica a canção à emancipação masculina início ao fim, uma mistura de cores e luzes, imagens que não só descrevem as cantigas de JP Simões como conseguem acrescentar-lhe algo. São da autoria do pintor Luís Lázaro e representam cada faixa do novo disco.

Este JP Simões tem uma faceta alegre e colorida. Ainda lá estão a melancolia das baladas bonitas, mas agora salta à vista a influência da música brasileira. 'O Português Voador', por exemplo, chega em tom de optimismo, apesar de versar sobre Portugal; um optimismo que, diz, "deve ser um fungo". A influência mantém-se com 'Rio-me de Janeiro'.

Antes de convidar Luanda Cozetti (Couple Coffee) para encerrar a primeira parte com 'Samba Radioactivo', JP Simões dá mais uns ares das várias referências que compõem o seu imaginário e traz Boris Vian, "o mestre". 'Ils Cassent Le Monde' é um momento majestoso.

De voz profunda e professoral, o trovador regressa para um encore curtinho, com 'La Strada' a ser comandada só por JP Simões. 'Tango do Antigamente' não podia faltar mas o fim é entregue a 'Gosto de me Drogar', hino que, confessa, tem dificuldade em explicar aos colegas do filho. É com esta, uma das suas músicas mais conhecidas, que termina a noite.

E com ela proclama: "abaixo a alma, viva o corpo".

--

JP Simões is one of the best Portuguese singer/songwriters right now. He is about to release a new album, entitled Roma (which is love, in Portuguese, spelled backwards).

On March 8th, he put up a show in Lisbon, at Musicbox, where he presented the audience with his Brazilian influences that will be a big part of the new record, to be out in May.

From Beatles to Chico Buarque and even Boris Vian, he played some covers and some songs of his own which he saves only for live shows - just to value them and the concert altogether. The show is in fact something close to a talk over drinks with friends, a philosophical considerations and love. A simple and romantic idea of love.

This is an artist worth getting to know. He is like and old fashion troubadour with a deep voice and with a hint of ironic and sharp humor.