11 Nov 2012

Misty Fest: B Fachada, a.C. e d.C.


2012 foi um ano de viragem no estilo de B Fachada. O álbum Criôlo ("um disco cor-de-laranja", como explica de forma simples o músico) marca a inflexão para os sons electrónicos. As teclas e os botões substituíram ocupam agora o cenário das actuações de B Fachada, que levou o aparato ao palco do Centro Cultural Olga Cadaval, no segundo fim-de-semana do Misty Fest.

Ainda anda a promover Criôlo e já tem novo trabalho na calha (a reedição de Os Sobreviventes, de Sérgio Godinho, está disponível a partir de 12 de Novembro). A esta produção fértil nos habituou B Fachada, com os mais de dez discos lançados desde 2007. Sabemos também que se deve esperar uma reinvenção constante do músico. Foi com esta expectativa que o público entrou para a sala do Olga Cadaval; uma excitação notória, um entusiasmo pequenino mas sólido, de quem segue o artista há  algum tempo.

No palco, o sentimento era algo mútuo e B Fachada começa por dizer ser bom tocar em casa. Pede também que o público se levante, caso a diversão chegue a tanto (não chegou). Arranca logo com músicas de Criôlo, de onde é retirado 'Afro-xula', single que a audiência reconhece de imediato.

Vai buscar a guitarra, reminiscência de um tempo a.C. (antes de Criôlo), e interpreta 'Tema do Melancómico'. A ela volta algumas vezes durante o espectáculo. Deste tempo fazem parte muitas das músicas que o público vai pedindo, a dar provas de que há fãs de longa data no auditório.

Segue-se a homenagem a 'Carlos T' e o público mergulha nos anos 80. Por vezes, é difícil não nos imaginarmos a olhar para a cabine de um DJ (possivelmente, de uma discoteca africana). Noutras, imaginamo-nos num bar de karaoke (um karaoke "sofisticado", descreve o músico).

Pede-se um improviso e B Fachada foge ao alinhamento para aceder às vozes do público, sempre divertido e animado. O concerto entra na recta final quando se ouve 'Sozinho no Roque'; o músico multifacetado prescinde dos microfones e da spotlight (para pânico da produção) e vagueia pelo palco a entoar as suas letras acutilantes e às vezes provocadoras.

B Fachada ainda regressa ao palco duas vezes. Ouve os gritos da audiência e aceita tocar mais uma. 'Estar à Espera ou Procurar' fecha o alinhamento de uma noite que provou que B Fachada é um artista da nova geração da música portuguesa que, irreverente à sua maneira, consegue ser seguido por muitos e suscitar a curiosidade de outros tantos.